Se uma pessoa famosa veio quebrar uma forma, um costume, um molde social, Rosalia de Castro tem no seu haver a ruptura de milhares de convencionalismos, a demonstraτπo de que tudo Θ possφvel quando existe inteligΩncia, sensibilidade e, sobretudo, um esplΩndido desejo de fazer aquilo que nos propomos, superando tudo o que nos poderia ajudar a trazer-nos ao ponto de partida e as magnφficas desculpas que se nos apresentam com mßxima freqⁿΩncia e oportunidade.
A tradiτπo chinesa p⌡e o sφmbolo do Galo dentro de um mundo de pensamentos, de reflexπo, quase de metafφsica. Nπo anda desencaminhado o emblema se se situa sobre a pessoa de Rosalia de Castro, dado que essa profundidade de meditaτπo, essa traduτπo ao texto dos sentimentos e sensaτ⌡es, da sua construτπo φntima da poesia, encaixa completamente com a ideia principal do Galo como sφmbolo do mundo interior, apaixonados pelo seu trabalho intelectual, apaixonados pelo universo pessoal, tπo enraizados por cima com o universo. Sπo os Galo maravilhosos conectores entre o cosmos e a alma; Rosalia foi tambΘm o pßra-raios que traduzia as descargas recebidas do seu ambiente humano e social e que tinha a capacidade de transcrevΩ-las para poesia, do seu pessimismo amargo que nπo faz mais do que dar fΘ do que vΩ e sente, desse mundo rural ou do mundo pr≤prio, intensamente sentido sob a chave da sua dor, do seu sofrimento.
Nos Galo costuma predominar o otimismo e essa nota Θ uma referΩncia obrigada que se deve contrastar com o que denominamos pessimismo amargo, como diziam os manuais sobre Rosalia. Mas estamos no romanticismo e estamos falando de uma mulher que sofre constantemente por razπo do seu estado fφsico, por razπo das suas circunstΓncias e dos condicionantes de uma Θpoca nada simples para enfrentar o c·mulo de dificuldades, o pesado fardo dos costumes e hßbitos de um sΘculo de grandes mudanτas que se aferrava desesperadamente ao passado. Bastante optimista deve ser uma mulher para poder lanτar-se ao mundo com toda a sua carga de personalidade e de criaτπo. Como ela pr≤pria dizia na sua ·nica obra em castelhano, Nas Margens do Sar, a sua procura era um mistΘrio para ela pr≤pria:
"Eu nπo sei o que procuro eternamente na terra, no ar e no cΘu; eu nπo sei o que procuro, mas Θ algo que perdi nπo sei quando e que nπo encontro, ainda quando sonhe que habita invisφvel em tudo quanto toco e quanto vejo... Uma sombra triste, indefinφvel, vaga, como o incerto, sempre diante dos meus olhos vai atrßs de outra sombra vaga que foge sem cessar, a correr sem cessar. ."
Dizem os clßssicos que os Galo tΩm uma certa proclividade a lanτar-se a empresas maiores das que, com as suas forτas, podem governar e que ver o resultado, o desgoverno, lhes cria a ang·stia da impotΩncia, lhes faz aflorar um sentimento de abandono quando chega a hora de render contas e vΩem que tudo parece fugir do seu controlo. Esse pode ser o pessimismo de Rosalia: notar que a tarefa Θ inacabßvel e as suas forτas sπo limitadas, que a tarefa que marcou a si pr≤pria Θ demasiada, que transborda completamente as suas forτas. Quando publicava estes poemas, a doenτa tinha-a aprisionado, tinha encontrado a dor da morte de um filho e jß lhe restava apenas um ano de vida. Tinha conhecido a dor em abundΓncia mas, como bom Galo, tinha permanecido de pΘ, sem abandonar o seu posto e sem ceder no seu talante. Os Galo podem presumir de justos, com eles e com os outros, mas mais ainda de ßrbitros da sua conduta e do seu comportamento.
GALOS C╔LEBRES
Serguei Rachmaninoff, Peter Ustinov, William Faulkner, Strindberg, Alban Berg, Joπo Carlos Onetti, D. H. Lawrence, Errol Flynn, Enrico Caruso, James Mason, Andre Maurois, George Telemann, Katharine Hepburn, Colette, Jean Paul Belmondo, Yves Montand...